Cancun, paraíso para os turistas, inferno para os Mexicanos
Quando o Instituto das Estatísticas mexicano (Inegi) anunciou à imprensa que a taxa de suicídio mais elevada da república mexicana se encontrava em Cancun, instalou-se como que um silênco entre os jornalistas, depois os murmúrios de incompreensão. Como? Suicidam-se mais à beira deste paraíso, mais do que no inferno da cidade Juarez ou de Tijuana, essas cidades fronteiriças presas nas garras dos narcotraficantes e cheias de fábricas?
«Parece que o paraíso não é para todos», respondeu, laconicamente a encarregada do estudo.
Um estudo complementar foi também realizado pelo Observatório da Violência Social em Cancun. A pergunta: porque é que a taxa de suicídio em Cancun (9,8) é quase o triplo da taxa de suicídio nacional (3,4)? Nos seus gabinetes da Universidae das Caraíbas, os investigadores não estão admirados com o resultado. Eles vivem desde sempre em Cancun, a verdadeira Cancun, como explica Celina Izquierdo, socióloga:
"A maioria dos mortos por suicídio trabalham no turismo e têm em média trinta anos. Eles chegam aqui com a esperança de uma vida melhor, mais ainda quando diante deles, há toda essa riqueza, totalemente inacessível e que nunca tinham visto. Eles estão longe da família, embriagam-se."
A primeira Cancun, uma longa avenida de quatro vias ao longo de uma praia de 22 km de comprimento: 26 000 camas de hotéis que já não deixam ver o mar. As piscinas, os campos de golfe, as marcas de luxo e os espaços verdes. Esta zona é maioritariamente artificial, construida numa fina orla de praia entre o mar e e lago. 95% dos mangais originais, que protegiam dos furacões, desapareceram.
A segunda Cancun, é uma cidade de 700 000 habitantes, que cresceu em trinta e cinco anos e que bateu um outro recorde do México – o crescimento demográfico mais alto – cerca de 5%.
Cada família que desembarca em Cancun instala-se onde pode, umas folhas de zinco e um buraco paras WC. A rede de água cristalina, que está por baixo, está hoje inutilizável. A esta poluição, juntam-se as toneladas de fertilizantes dos campos de golfe, todos permeáveis para o sub-solo. Resultado: a água destinada aos hotéis é bombeada de cerca de 50 km da cidade e transportada por aquedutos.
Ao contrário, os dejectos dos turistas são empilhados no meio desses quarteirões. Solução apresentada com «provisória» em razão da proximidade das habitações, passou a definitiva.
Cancun despeja por dia 750 toneladas de dejectos: metade provém dos 700 000 habitantes, a outra metade das 26 000 camas de hotéis…
Os trabalhadores não recebem mais do que o salário mínimo, insuficiente para viver em Cancun onde os preços são, em média, 15% mais altos do que em qualquer outro lugar. As cadeias de hotéis, em toda a ilegalidade, utilisam os contratos temporários de 28 dias, sem protecção social, renovados depois de 3 dias de pausa, como testemunha Alejandro, massagista num hotel:
«No dia em tu assinas um contrato, assinas ao mesmo tempo a carta de demissão dentro de 28 dias. Eles fazem tudo isto e se tu dizes qualquer coisa vais para uma "lista negra". Será impossível então encontrares trabalho em toda a Riviera Maia.»
Os trabalhadores de pés e mãos atadas, os sindicatos comprados e as autoridades fecham os olhos. Assim vai Cancun, e assim vai cada vez pior a vida sob o Sol das Caraíbas.
Não sei o que me deu para partilhar isto convosco em época de férias, talvez a esperança de que alguns de vós dediquem uns minutos a olhar em volta , quando lá forem.