Também o Egipto ainda é o que era
É muito difícil a uma revolução sobreviver se não romper definitivamente com o passado, é a história que o demonstra à exaustão. Tarde ou cedo aqueles que não expiaram os seus crimes voltarão em força com a violência que os caracteriza. Algum dia, para seu bem, as forças progressistas terão que se convencer que não é com os paninhos quentes das amnistias serôdias ou com as inquinadas "reconciliações" que será possível instalar a verdadeira democracia.
Substituir o ditador pelo seu mais fiel rafeiro é coisa que só ao diabo lembra. Colocar à frente dos destinos do Egipto aquele que foi ministro da defesa desde 1991 é completa cegueira, é veneno para a própria revolução, nem o facto de os EUA apostarem tudo nele os fez desconfiar, o resultado está à vista dezenas de mortos, centenas de feridos, volta a dura repressão e o sonho da Praça Tahrir ameaça escapar-se como areia por entre os dedos das mãos. Razão tinha eu quando em 12 de Fevereiro escrevi que Mubarak tinha caído mas o regime não mudara. A polícia que semeou a morte no início da revolução volta agora intocável à mesma praça matando novamente. A estratégia do rafeiro de Mubarak, Mohamed Tantaui, chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas, é velha, ou ele e o exército ou o caos.
Por cá tivemos algo semelhante quando Spínola quis tomar o poder pela força, falhado o 28 de Setembro e a sua maioria silenciosa tentou de novo em 11 de Março. Valeu-nos aqueles militares que estavam ao lado do povo, valeu-nos determinação de não deixar morrer Abril. Mas cá como lá não julgámos a maioria dos criminosos, cá como lá eles estão de volta a reclamar o que sempre consideraram "seu". Cá como lá desistir seria condenar o futuro, cá na greve geral lá na Praça Tahrir, a mesma luta.