Malalai Joya
Pelos vistos não sou só eu que afirmo que as eleições afegãs foram uma gigantesca fraude, e que vergonhas à parte, recebeu o apoio dos governos ocidentais para uma segunda volta. Julgam eles que esse acto lhe confere mais "credibilidade". Há até quem não tenha pejo em afirmar: "é verdade que houve fraudes consideráveis, mas apenas isso". Dito assim até faz gelar o sangue, mas quem o disse foi o representante especial da ONU no Afeganistão, Kai Eide.
Quem não está de acordo com esta hipocrisia é Malalai Joya, uma deputada afegã que no entanto não tem direito a ali sentar-se. Anteontem ao receber, em Madrid, o Prémio Juan María Bandres dedicado à Defesa do Direito de Asilo e à Solidariedade com os Refugiados afirmou não saber quantos dias lhe restam de vida, mas que até que a matem continuará a denunciar aqueles que governam o Afeganistão com as mãos manchadas de sangue.
Admirada por uns, odiada por outros, defensora dos direitos humanos, com 31 anos, converteu-se na pessoa mais jovem do Parlamento afegão. Mas como não podia deixar de ser o parlamento expulsou-a dois anos depois, por acusar alguns dos seus membros de narcotraficantes, corruptos e misóginos.
Sobre as eleições, sobre o que se passou na primeira volta, garante que irá repetir-se na segunda e vai mais longe, afirma que estas eleições nunca serão consideradas legítimas pela maioria dos afegãos nem com uma ronda eleitoral, nem com duas, nem sequer com dez, porque estão a celebrar-se debaixo da vigilância das armas, do império das drogas, da corrupção e do crime. Ganhe quem ganhar será o mesmo burro com uma nova sela. O que importa não é quem vota, mas sim quem elege e isto é o mesmo que dizer o Ocidente, a Casa Branca. Enquanto isso as gentes do Afeganistão continuarão a morrer encurraladas entre dois inimigos, as tropas de ocupação estrangeiras e um governo ilegítimo.
Malalai Joya alerta para o facto de o dinheiro e as armas estrangeiras irem parar aos senhores da guerra, tornando-os mais poderosos. Cada bombardeamento aéreo que mata civis está a beneficiar os talibãs. Por isso, quanto mais tempo durar a ocupação, pior será a guerra civil posterior. Os senhores da guerra que se uniram a Karzai e Abdullah foram precisamente os responsáveis pela anterior guerra civil afegã. Se se lhes dá o apoio, em vez de apoiar as verdadeiras forças democráticas, que agora se vêm forçadas a viver na clandestinidade pelas ameaças de morte que recebem, definitivamente haverá outra guerra civil.
Malalai Joya apresta-se para regressar ao Afeganistão recusando qualquer ideia de se refugiar pelas nossa bandas pois como diz, passou a infância e a adolescência em campos de refugiados no Irão e no Paquistão, mas voltou porque queria ajudar a construir um Afeganistão em paz, unir-se aos milhares de afegãos que já ali estavam, arriscando as vidas pela paz.
Essa é a pesada herança que o ocidente lhes deixa…
Para conhecerem um pouco a fibra de que é feita Malalai Joya deixo-vos aqui este vídeo.
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