Antes tarde do que nunca
Em 3 de Março deste ano dei-vos conta aqui que se estava a desenrolar no Uruguai o julgamento do ditador Gregorio Alvarez. Pois bem, embora tarde, foi condenado a 25 anos de prisão. Perante a condenação mostrou-se inconsolável porque, disse ele, "com a idade que tenho vou passar o resto da minha vida na prisão".
Não sei se os familiares daqueles que morreram às suas mãos ou por sua ordem e que acompanharam o julgamento terão ouvido estas palavras, mas na minha modesta opinião acho que deveriam reunir esses familiares numa sala a sós com ele, de modo a permitir que ele lhes apresente esse desconsolo...
O personagem encontrava-se preso desde 2007 por violação dos direitos humanos cometidos durante a ditadura naquele país. Sobre ele pendiam acusações pelo homicídio de 37 opositores e o desaparecimento forçado de presos políticos, que posteriormente teriam sido executados e ainda por ser co-autor de sequestros de uruguaios na Argentina e o seu transporte clandestino para o Uruguai onde eram abatidos.
Gregorio "Goyo" Alvarez teve ainda participação activa no golpe de Estado de 1973 e converteu-se no símbolo da ditadura que assolou o Uruguai até 1985.
Na madrugada de 27 de Junho de 1973 encabeçou o "piquete" das Forças Armadas que, sob presidência de Juan María Bordaberry invadiu a sede do Congresso e dissolveu o Parlamento, impondo uma ditadura que se prolongou por 12 anos.
Em 1981 provocou outro golpe de Estado, forçando o Conselho de Segurança Nacional a propor o seu nome para a presidência e a entregar-lhe o poder.
A ironia das ironias é que tendo o seu governo sido especialmente duro para com os Tupamaros seja precisamente um ex-tupamaro que ganhou este Domingo a primeira volta das eleições presidenciai e uma Frente Ampla de esquerda que ganhou as legislativas naquele país...