Uma questão de tomates?
Depois do que se tem passado por cá entre o Supremo Tribunal de Justiça e a Procuradoria-geral da República em torno do processo "Face Oculta", devo reconhecer que em Itália os seus congéneres "os" têm mais no sítio...
Em terra da Camorra acusar e mandar prender um membro do governo de Silvio Berlusconi por ligações com aquela é realmente uma questão de tomates e de coerência com a profissão.
Chego a interrogar-me se o raio daquela directiva europeia que limitou no nosso país a produção de tomates não terá sido executada com tal excesso de zelo que meteu no mesmo saco os tomates com pêlo e os pelados.
Mas o que aconteceu realmente em Itália? Um destacado membro do governo de Berlusconi, o Secretário de Estado da Economia, Nicola Cosentino, pactuou durante anos com os Casalesi, um dos clãs da Camorra napolitana mais mais perigosos, e também dos mais conhecidos. É disso que o acusa o Procurador Nápoles Raffaele Piccirillo, que acaba de pedir a prisão de Cosentino por associação mafiosa.
Este destacado membro do governo é, para além disso o homem forte do partido de Berlusconi, o Povo da Liberdade, na região de Campânia, onde é coordenador regional. Contribuía desde os anos noventa para reforçar as actividades dos clãs camorristas Bidognetti e Schiavone, dos quais em troca recebia "apoio eleitoral".
Por cá os figurões dos crimes de colarinho branco, da corrupção, estão perfeitamente blindados por legislação feita à medida dos seus interesses, enquanto aqueles que roubaram para comer apodrecem nas prisões, ou será uma questão de "tomates"?
