Juan Melendez 6446

De vez em quando chega-nos a notícia de alguém que acabou de ser assassinado com uma injecção letal, por um pelotão de fuzilamento ou até mesmo por enforcamento. Dá-se à mesma o relevo necessário como que a dizer "fizeste mas pagaste". Nunca nessas notícias se questiona a pena de morte ou até mesmo um possível e "inadvertido" erro. É apenas o tempo, uma sorte do caraças, que às vezes se encarrega de o fazer. A mesma sorte que me fez tropeçar com esta "história" que teve um final diferente em Janeiro de 2002, mas cujo protagonista continua vivo e que ao fim destes 7 anos continua a contá-la na primeira pessoa.
É Juan Melendez, o preso 6446, que passou 17 anos, 11 meses e um dia no corredor da morte, que escapou a ser notícia igual a tantas outras... Ao fim desse tempo saiu livre de qualquer acusação, porque afinal não tinha sido ele o oautor do crime pelo qual tinha sido acusado e condenado á pena de morte , e que ao contar a sua história poderá quebrar alguns espíritos mais endurecidos. É claro que isto sou eu a pensar, que não faltará quem por aí diga "estás a ver como o sistema funciona, não era culpado, não foi executado!..."
Aos repórteres, que o esperavam à porta de um tribunal, e à pergunta "que fará agora, para onde vai?" respondeu apenas "o que quero é ver a lua". A cela de cinco metros quadrados onde esperava a execução não tinha qualquer janela. Este antigo trabalhador sazonal analfabeto, que viajava pelos Estados Unidos na apanha da fruta, percorre agora o mundo "com uma missão". Juan Melendez, de 58 anos, sente-se privilegiado por estar vivo. Resumiu parte da sua experiência no corredor da morte num documentário de Luis Albert e afirma que esse documentário é a sua ferramenta para lutar contra a pena de morte.
Nem os pesadelos nos quais sonha que continua preso o fazem parar. Se dorme quatro horas já considera um milagre. Sofre de stress pós traumático, medo de multidões e às vezes chega a ficar paralisado no meio de uma passadeira.
À pergunta se não seria mais fácil encerrar a sua luta afirma que não pode, que há muitos homens no corredor da morte, que o ensinaram a escrever, a falar inglês, a perdoar sem guardar rancor, que não pode esquecer-se deles, como não se pode esquecer da sua mãe, que em Porto Rico amealhava dinheiro para repatriar o seu cadáver se o executassem...
É claro que foi ressarcido por esse erro e esses anos na prisão, recebeu 100 dólares de indemnização, sem direito a um pedido formal de desculpas pelo estado da Florida.
Às vezes é bom tropeçar nestas histórias…
