Só podia...
Embora nesta vida já nada me surpreenda, sou burro velho, até porque já aqui escrevi várias vezes sobre o conflito no Congo e da cumplicidade de interesses ocidentais nas matérias-primas do subsolo daquele país, confesso que me passou ao lado a conivência, o apoio logístico e financeiro por parte de padres da igreja católica a uma das milícias acusadas dos mais graves abusos dos direitos humanos, a Frente Democrática para a Libertação do Ruanda no Congo, FDRL, de que já falei nomeadamente aqui, aqui e aqui.
É o que revela um relatório de especialistas nomeado pela ONU, que traz à luz do dia o envolvimento de Joan Casoliva, presidente da organização Inshuti/Amigos do Povo do Ruanda, com sede em Barcelona, e Joan Carrero, presidente da Fundação SOlivar, uma organização cristã sedeada em Palma de Maiorca.
A estes dois junta-se o missionário italiano Pier Giorgio Lanaro, da congregação Severiens que com a cumplicidade do contabilista, Franco Bordignon desviava os fundos, recolhidos na Europa para ajudar os refugiados, para apoio directo à FDRL.
O relatório menciona também o padre belga Constant Goetschalckx que esteve à frente da organização Irmãos da Caridade na localidade de Kigoma. Goetschalckx aparece mencionado juntamente a Casoliva como provedores de dinheiro a operacionais da FDLR.
Se a isto acrescentar que o Tribunal Penal Internacional para o Ruanda já tinha condenado três religiosos pelo seu papel no genocídio de 1994 terá que se reconhecer que nesta matéria também a igreja faz questão de deixar a sua "marca".
Quem sai a perder são os refugiados e as verdadeiras organizações que ali operam de boa vontade. A cúpula da igreja mantém o habitual silêncio...