Notas sobre a greve III
"A greve é um direito inquestionável dos trabalhadores". Se repararam foi mais ou menos assim que quem se queria manifestar contra a greve e os grevistas começava.
Depois seguia-se o chorrilho do costume: "no estado em que o país está é um crime fazer greve"; "querem é continuar a viver à tripa forra com o dinheiro dos nossos impostos"; "não vão lucrar nada com isso, não sei porque a fazem"; até esta, juro que não estou a inventar: "a greve deveria ser feita exclusivamente pelos desempregados, os outros não podem ter razão de queixa".
Outras, muitas outras, todos deveremos ter ouvido hoje. Dispuseram para tal do tempo de antena e zelo necessários postos ao seu dispor pelas Tvs. Alguns chegavam mesmo a antecipar-se aos inquiridos colocando-lhes logo de início o preconceito, em jeito de pergunta, não fossem eles esquecer-se...
Continuam a esta hora a alimentar o ódio e a guerrilha do sector privado contra o sector público. Na blogosfera os posts sucedem-se minuto a minuto, todos eles com a tal declaração prévia, todos iguais.
Aqueles que até há pouco tempo se declaravam oposição e "alternativa", nem se dão conta que repetem à exaustão e com entusiasmo os argumentos dos ministros ou da bancada parlamentar ao lado.
Certinho e afinadinho, no Parlamento, o "centrão" chumbava hoje uma proposta para aumentar a tributação das mais-valias mobiliárias de 20 para 21,5.
Imparável esteve Helena André, a ministra do Trabalho. Vaticinava de manhãzinha que a adesão à greve se deveria situar entre 5 e 90%, se tivesse dito 0 e 100% não falhava de certeza, para à tarde acrescentar que a greve tinha tido fraca participação já que não houve aumento no consumo da electricidade...