Uma questão de equilíbrios
Tenho esperado, em vão, por reacções à decisão da entrega do comando da "Operação Alvorada da Odisseia", vulgo invasão da Líbia, à Organiza-ção do Tratado do Atlântico Norte, NATO. Algo me diz que posso esperar sentado.
É o maior precedente na história da Organização das Nações Unidas, a maior alteração de todo o sistema internacional na era pós-guerra-fria. Meia dúzia de potências ocidentais decidem, sem consultar o Conselho de Segurança da ONU, que a NATO assumirá o controlo das operações na Líbia.
Nunca antes tinham ido tão longe, nem mesmo no Afeganistão. Mesmo ali são as Forças Internacionais de Segurança, ISAF, que têm mandato específico da ONU, periodicamente renovado pelo Conselho de Seguran-ça, a controlar as operações.
Agora tudo é mandado às urtigas e as comunidades internacionais parecem nem se dar conta da gravidade do precedente que alterará radicalmente o funcionamento do sistema internacional.
Depois de terem permitido com a sua abstenção a invasão da Líbia será que países, com direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, como a Rússia ou a China, permitirão agora que as relações nos órgãos internacionais se alterem definitivamente cedendo todo o poder a uma aliança militar que representa tão-somente vinte e oito países e que conflitua a maior parte das vezes com os restantes membros da ONU?
Será que países como a Rússia e a China venderão o precário equilíbrio existente a troco da admissão Organização Mundial do Comércio, no caso do primeiro, ou do não levantamento de problemas na questão do Tibete no caso do segundo?