Ele há coisas do camandro III
Estão a decorrer eleições presidenciais no Peru, eram cinco candidatos à partida, haverá segunda volta. De um lado Ollanta Humala, candidato apoiado por uma vasta coligação de esquerda que envolve o Partido Nacionalista Peruano, Partido Socialista, Partido Comunista Peruano, Partido Socialista Revolucionário, Movimento Político Voz Socialista, Movimento Político Lima Para Todos, dirigentes populares de diversas organizações sociais, assim como mulheres e homens independentes e várias organizações do movimento indígena.
Do outro Keiko Fujimori, filha e herdeira política do ex-ditador Alberto Fujimori que se encontra na choldra por corrupção, enriquecimento ilícito, evasão fiscal e genocídio.
Alertei para estas eleições e em particular para estes dois candidatos há cerca de dois anos. Na altura, entre outras coisas, escrevi isto:
"Ora aí está, filha de peixe sabe nadar. Keiko Sofia Fujimori, filha do ex-governante do Peru Alberto Fujimori, há pouco tempo julgado e conde-nado, como aqui dei conta, já afirmou publicamente que se for eleita presidente nas eleições de 2011 de imediato indultará o pai.
Há quem considere o indulto tão improvável como impossível e subestime esta declaração, mas tem muitas pernas para andar, primeiro porque Keiko Fujimori, que actualmente ocupa o cargo de congressista, reúne à sua volta apoios que não devem ser desvalorizados, segundo porque se olharmos para os exemplos que dominaram durante décadas aquela região da América Latina, constataremos que a lei Anti-sequestros do ano 2006 e que impede o indulto será por certo aquilo que menos apoquentará a já anunciada candidata. O aviso está feito."
Mais tarde já em de Janeiro deste ano voltei ao tema das eleições dando conta do perfil de Ollanta Humala e alertando: "O Peru está a três meses de eleger um novo presidente, só que desta vez as coisas podem ser diferentes."
E não é que estão mesmo a ser diferentes? Oh se estão, que o diga Vargas Llosa, o Nobel, que ainda há duas semanas qualificava Ollanta de cancro, ele que idolatrava Friedrich Von Hayek, economista ultraconservador conselheiro de Pinochet no Chile que preconizava que buscar a justiça social é uma atitude que vem das tribos ou das hordas, afirma agora que vai votar nele "sem alegria e com muitos temores", basica-mente para evitar a vitória de Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori. Aqui confesso que me enganei porque não tinha bem a noção da dimensão do ódio pessoal entre ambos. Vargas Llosa nunca conseguiu ultrapassar a derrota frente a Fujimori nas eleições presiden-ciais de 1990, velhos rancores...
Serão eleições difíceis para Ollanta, porque para lá do "episódico Vargas" contará com a forte oposição de direita, de extrema-direita e da hostilidade da comunicação social que sempre o fustigou.
No entanto Ollanta e a sua coligação "Gana Peru" devem ter aprendido algo mais durante este tempo e o povo peruano pode não estar disposto a que se abram as celas para que os ladrões, assassinos e torturadores saiam à rua novamente.
Ao resultado das sondagens que dão actualmente 42% a Ollanta e 36% a Keiko reagiu a "entourage" de Keiko com o despedimento de dois jornalistas de um canal de televisão por cabo propriedade do grupo Editorial "El Comercio", o mais importante do Peru, por não apoiarem activamente a sua candidata.
Patricia Montero, editora-chefe do Canal N (canal de notícias) e José Jara, responsável pelo noticiário “De 6 a 9", foram os primeiros a sentir a pressão dos donos do grupo editorial que já deu frutos porque são já vários os jornalistas que "sentiram necessidade" de vir a público dizer que não apoiam Ollanta, que com ele será o caos.
E a procissão ainda vai no adro, a segunda volta é só a 5 de Junho...