Está visto, ainda têm muito que caminhar no Equador
No meio uma escalada de confrontação entre a Igreja Católica e o Governo, realizaram-se três missas ao ar livre, em Guayaquil, cidade costeira com a maior populacão equatoriana, para orar e pedir que "se ilumine a consciência dos católicos" frente ao referendo de uma nova Constituição, convocado para o próximo dia 28 de Setembro.
O presidente Rafael Correa, um jovem socialista, católico praticante, denuncia que a cúpula da Igreja Católica, "que não conhece Deus", está a defender a classe oligárquica e os grupos económicos do país ao promover o voto pelo 'não' e acusa-a de o ter traído e "cravado um punhal nas costas".
A confrontação entre a Igreja e o Governo entrou em cena no meio de uma campanha eleitoral polarizada para aprovar ou rejeitar um novo texto de Constituição, redigida por uma Assembleia Constituinte, que, segundo diz no seu preâmbulo, pretende construir uma nova forma de convivência cidadã, para alcançar o "sumak kawsay", palavra 'quichua' que significa 'bem viver'.
Os prelados tornaram público o desacordo com quatro pontos "não negociáveis" do projecto constitucional que se contrapõe com a fé católica e chamaram os paroquianos a meditar sobre o seu voto, o que significa uma clara campanha pelo "não".
Segundo a Igreja o novo texto tem um marcado intervencionismo estatal que violenta a creatividade das pessoas e da sociedade; não se reconhece claramente o direito à vida desde a concepção e deixa aberta a porta para o aborto; violenta a liberdade de ensino; atenta contra a família ao reconhecer a união estável e monogâmica de duas pessoas sem diferenciar o sexo".
A reacção de Correa foi imediata. Pediu aos cidadãos que, durante as missas, se levantem e chamem mentiroso ao sacerdote que assegure nos seus sermões, que o novo projecto constitucional "é abortista ou promove o matrimónio homosexual".
María Isabel Morán, militante de um movimento de esquerda, interpôs uma queixa penal contra monsenhor Arregui, acusando-o de desrespeitar o tratado celebrado entre o Equador e o Vaticano em 1937, no qual a Igreja se compremeteu a abster-se de fazer política.
Pese embora este panorama, o director da empresa de sondagens SP Investigações, sustenta que 57% dos equatorianos votará 'sim' apesar de mais de 80% dos equatorianos serem católicos.
Segundo outra empresa "Informe Confidencial", o 'sim', segundo as suas sondagens está em 56%.
Com estes resultados Correa, que asumiu o poder em janeiro de 2007, poderá conseguir um novo triunfo político que lhe permitirá concretizar mudanças profundas para uma nova estrutura jurídica, económica e social do país, tal como foi sua promessa na campanha.
Se a igreja fosse assim tão aguerrida contra a fome, contra a miséria, contra a ditadura...