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Decorreram a semana passada eleições na Argélia, Buteflika foi de novo eleito e com toda a certeza 15.000 desaparecidos continua-rão esquecidos.
No cemitério de El Alia, há 3.300 campas sem nome. Sobre as lápides, apenas um X. Nada se sabe daqueles que estão ali sepultados, como morreram, a qual das partes em confronto pertencia durante a guerra suja na Argélia. Ninguém sabe quem são, excepto o Estado, que cala, por medo que se apurem responsabilidades no seio militar, que continua a deter as rédeas do poder.
A Argélia do presidente Abdelaziz Buteflika, que acaba de ser eleito para o seu terceiro mandato, foi construída sobre o silêncio das vítimas desta guerra que deixou 200.000 cadáveres entre 1992 e 2002.
Vítimas como Nassera Dutour, Zubida Rebika ou Zineb Arribi. A todas elas, a temível Segurança Militar arrebatou-lhes um filho nos anos 90, quando bastava uma palavra para ser considerado terrorista. Sem ordem de prisão, sem porquês, os Nissan cinzentos chegavam, levavam homens e mulheres e, depois, o silêncio.
A Amine, o filho de Nassera, apanharam-no na rua quando tinha saído para comprar um bolo; ao filho e ao marido de Zubida Rebika levaram-nos em plena noite de casa em sapatilhas; ao filho de Zineb Arribi, Hocine, de 17 anos, também o sacaram da cama. À sua mãe disseram-lhe que o devolveriam num quarto de hora. Já passaram 15 anos.
As reclamações das famílias dos desaparecidos revelam a verdadeira natureza da política de reconciliação nacional, baseada na impunidade, promovida por Buteflika desde a sua chegada ao poder em 1999.
As denúncias contra as forças de segurança estão proibidas. Todos culpam o presidente de ter passado o cheque em branco da amnésia. Sob o pretexto de acabar com a violência mediante a amnistia dos terroristas arrependidos, Buteflika conseguiu que se aprovasse em referendo em 2005 a chamada Carta para a Paz e a Reconciliação Nacional.
Esta lei acolhe a amnistia mas também proíbe qualquer denúncia contra as forças de segurança e ameaça com penas de prisão por cinco anos a quem atente contra a sua "honra". O escritor argelino Bualem Samsan resume o clima que reina no seu país recordando aqueles que a cada dia "se cruzam com os seus torturadores e têm que saudá-los ou baixar os olhos para não os "ferir", como estipula a lei de Reconciliação Nacional".
A comunidade internacional continua a acolher Buteflika como um par entre os seus pares, até porque os ditadores estão na América Latina...
Fonte: El País