Ao Domingo é dia de descanso VII
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Bom Domingo e tenham cuidado com as ratoeiras!
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Bom Domingo e tenham cuidado com as ratoeiras!
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Já tinha abordado aqui as eleições presidenciais no Chile. Os tristes acontecimentos no Haiti desviaram-me a atenção da se-gunda volta das mesmas. Não será nesta altura novidade para ninguém que a direita chilena voltou ao poder por via eleitoral ao fim de 52 anos, já que por via golpista esteve lá há pouco tempo.
Corrijo aqui a falha de não ter colocado segundo post sobre aquelas e eleições, mas vou sempre a tempo, quanto mais não seja através deste vídeo da noite do acto eleitoral.
Conhecidos os resultados a extrema-direita saiu à rua e a sua peculiar forma de estar na vida veio ao de cima, em vez de saudar o candidato mais votado, rumou à sede do Partido Comunista do Chile e ali expressou o que lhe vai na alma: o ódio. O mesmo ódio que governou o Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet. Curiosamente o candidato derrotado pertencia ao partido Democrata Cristão. Mas é como alguém escreveu há muitos anos, primeiro os comunistas...
Os cânticos são esclarecedores: "General Pinochet, este triunfo é para você" ou "Com Allende faremos uma ponte por onde de passarão Pinochet e o os seus valentes” e outros carregados de ameaças de morte.
Nestas ocasiões ainda mais lamento que aquele que foi o responsável por milhares de mortos, desaparecidos ou torturados não tenha sido julgado. Estes factos servem para demonstrar o que as leis de amnistia têm de injusto, à primeira oportunidade mostram novamente as garras, eles aí estão a sair do armário...
Se há profissão que nasceu para ser bombo da festa, não tenham dúvidas, funcionário público. Não sou e nunca fui funcionário público, mas sempre olhei para eles com alguma bonomia. A mesma bonomia com que se olha para um patinho feio, quer ele seja preto ou amarelo.
Ao longo dos anos que carrego terei esquecido muita coisa, há porém algo que nunca esquecerei, uma afirmação de César Príncipe, jornalista do JN, no palco do Coliseu do Porto nos finais de 1973, em plena campanha eleitoral da oposição congregada em torno do MDP/CDE.
Exclamava ele com convicção que só ia para funcionário público quem não sabia fazer mais nada. A convicção ditada por sectarismo vesgo, mas que me fez gelar o sangue nas veias, ainda mais por para ali ter arrastado dois amigos, um deles pertencente a essa classe profissional.
Depois de uma década sem aumentos reais de salários, tiveram apenas uma folga em ano de eleições, ei-los novamente eleitos como bombos da festa à mesa do Orçamento. E são-no de tal maneira que parece que todos nós já o interiorizámos como natural, como inevitável. Aí estão de novo aqueles que estão bem na vida a culpá-los por terem "escolhido" essa profissão e por todos os males que assolam o país.
Estranhamente ouço de novo as palavras de César Príncipe a dizer-me que só vai para funcionário público quem não sabe fazer mais nada e novamente gela-se-me o sangue nas veias.
Estranhamente ouço o ministro das finanças declarar que se for preciso diminui o seu próprio salário... Não é necessário senhor ministro, pelo menos enquanto houver funcionários públicos...
Parece que começam a ficar para trás os tempos em que Talibã era sinónimo de terrorista. Quem se apressa a começar a tirá-los da "lista" é o comandante da NATO no Afeganistão, Stanley McChrystal, que já preconiza que os Talibãs façam parte do governo e tudo isto com o apoio de Washington e do presidente afegão Hamid Karzai.
Esta coisa de rótulos tem que se lhe diga, depende muito de quem os coloca e depende igualmente de quem os retira. Foi assim com o Irão, foi assim com a Coreia do Norte, com Cuba é que não, são segundo Washington terroristas entre os terroristas.
Não tarda muito que veja por aí muito boa gente a louvar esta decisão. Essa boa gente que passará a borrifar-se novamente para a Burka e para os direitos das mulheres naquele país. O que é preciso é seguir a corrente.
Obama cada vez mais apertado a nínel interno vê-se entalado externa-mente e não me admiraria nada que de aqui a uns meses ou um ano surgisse um governo dessa natureza e fosse apresentado ao mundo como uma vitória sobre as forças do mal e tudo isso ao fim de nove anos de guerra.
Há quem garanta que tudo isto é quase dado adquirido e que o envio dos 30.000 homens por Washington não seja mais do que colocar pressão sobre os Talibãs para aceitarem certas condições de Washington.
O comandante da NATO vai ao ponto de afirmar que já se lutou muito e que agora deve chegar-se a uma solução equitativa sobre a forma de governar.
Falta só aplicar mais umas quantas mortandades entre civis e depois sim apertar as mãos como bons amigos que põem acima de tudo a "paz"....
O que provavelmente não estão a ter em conta são estes anos todos de subjugação e humilhações cujas feridas estão demasiadamente abertas e que a contagem de civis mortos ou estropiados está ainda por fazer. Dificilmente os povos esquecem.
Já está garantido que cerca de 50 prisioneiros de Guantanamo vão ficar presos indefinidamente, apesar de não haver provas do seu envolvimento em actos terroristas e nem seque terem direito a julgamento. Serão transferidos para uma prisão no Estado de Illinois, isto se Guantanamo fechar...
Igualmente em Guantanamo vão ficar dez mil refugiados haitianos. O último sítio que me passaria pela cabeça para acolher aqueles desgraçados seria precisamente aquele local. Saem de um país devastado para o local que se tornou símbolo de violações dos direitos humanos, querem lá ver que é macumba?
Ironia suprema é o facto de Guantanamo ter sido uma peça fundamental da estratégia de intervenção norte-americana no Haiti em 1994.
Hoje já vou dormir descansado, Vitor Constâncio acalmou-me, tirou-me do pânico em que afundava. Ouvi-o há momentos, juro, o Governador garante que já não será preciso cortar nos salários, bastará congelá-los. Uffa! Obrigado Senhor Governador. O senhor é um mãos largas, o seu coração é enorme, imenso. Portugal precisa de si!
Não fora o adiantado da hora e ia já abrir uma garrafa de champanhe, que tenho guardada sempre à espera que Vossa excelência de me desse uma notícia assim desse tamanho. Nestas coisas não há como ter fé. Eu sabia, eu sempre confiei em si, nunca me desiludiu.
Não fora o adiantado da hora e iria pedir aos bombeiros aqui d'Areosa para fazer sair a fanfarra e tocar a sirene.
Não fora o adiantado da hora e eu mesmo lançaria foguetes e balões, que ainda aqui tenho alguns guardados do São João.
Não fora o adiantado da hora e iria buscar aquela bandeira que tenho bem engomada desde o tempo de Scollari e sairia de carro buzinando até à Avenida dos Aliados.
Não fora o adiantado da hora enviar-lhe-ia um SMS ou até um MMS. À cautela, nestas coisas de agradecimentos devemos ter sempre o cuidado de garantir que eles chegam ao seu destinatário, deixo-lhe aqui a imagem que melhor traduz o meu agradecimento.
Bem-haja Senhor Governador! Pode ter a certeza que se pudesse votava em si lá para aquela coisa do BCE. Em todo o caso, estrelinha que o guie...
René Préval, o presidente do Haiti, que após o terramoto fugiu para a República Dominicana deixando o país entregue ao "deus dará", recusou a oferta de receber soldados procedentes daquele país, o que obrigou a ONU a recorrer a outros países para conseguir os efectivos de paz adicionais que pretende enviar para o Haiti como reforço da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH).
Até nas fardas René Préval tem as suas preferências... Julgava eu que em alturas como esta não se olhava a velhos rancores, ou então há razões que a razão desconhece.
Há no entanto um facto indesmentível, a República Dominicana tem cumprido o seu papel de ajuda humanitária. Talvez Préval não tenha gostado do conselho dominicano de regressar ao seu país e enfrentar com o seu povo a desgraça. Pelos vistos segue outros conselhos.
Esta coisa de fardas dá-me mesmo a volta ao miolo... São as fardas que têm impedido os Médicos Sem Fronteiras de receber aviões com novos stocks de medicamentos.
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Diz a CNN que este hospital cubano é o único digno desse nome no Haiti. Talvez por todo o seu pessoal ser civil e não militar, talvez por terem carregado para o Haiti medicamentos em vez de armas.
É gente que é considerada terrorista pelo governo de Washington. Eu digo que apenas é gente pobre mas solidária.
É assim que me sinto perante todos os Haitianos que acreditavam na palavra solidariedade. Prontifiquei-me a contribuir, monetaria-mente, para a ajuda humanitária e afinal constato que essa ajuda permanece há sete dias, há longos sete dias no aeroporto de Port-au-Prince, longe, muito longe daqueles que dela precisam.
A comunidade internacional, a ONU, os EUA, deveriam tal como eu sentir-se envergonhados. Perdem-se em guerras espúrias de competências e controlo sobre um país devastado e não se dão conta que não passam além do seu umbigo.
Ir ao Haiti para ajudar e voltar passado 7 dias sem sequer colocar um penso a um ferido ou ter entregue um pouco de água a um desgraçado sedento, era algo que eu não imaginara.
Segurança, segurança, segurança, são as palavras mais repetidas nas TVs. Enquanto a segurança absoluta não for garantida, como se tal fosse possível, ninguém arreda pé do aeroporto, como se o Haiti estivesse a ferro e fogo.
Não está, mas mais parece que todos esperam que venha a estar, os sedentos de protagonismo, os comandos militares por um lado, os jornalistas sensacionalistas por outro.
Parece que todos apostam no início da barbárie para então entrarem em palco. Enquanto tal não sucede, permanecem nos bastidores, no aeroporto.
Saúdo aqueles que "ousaram" intervir, aqueles que levam socorro aos necessitados, ainda que na sacola não levem mais do que boa vontade.
Tenho vergonha, o "show" está quase aí, só faltam mais uns quantos milhares de militares a somar aos outros milhares que já lá "estão".
Foram rápidos a pedir ajudas, não faltaram NIBs e números de contas bancárias, os holofotes não perderam tempo a projectar as suas luzes sobre os Brad Pit, as Angelinas Jolie, o presidente deste ou daquele país.
Por falta de ajuda o número de mortos cresceu, por falta de medicamentos o número de amputados cresceu igualmente. Cres-ceu também em mim a impotência e a revolta.
Sigo com atenção e redobrada preocupação as reportagens sobre a situação do Haiti. Após washington ter anunciado o envio de 10.000 militares torci o nariz e escrevi algo sobre o assunto aqui.
Mais do que militares fortemente armados o Haiti precisa de ajuda humanitária, que falhou nas primeiras vinte e quatro horas, as que são fundamentais para garantir a possibilidade de recuperar muita gente com vida. Precisará obviamente de forças policiais, em número adequado e nunca desproporcionado para garantir a ordem.
Não me venham com desculpas esfarrapadas de que o Haiti não tinha estruturas preparadas. Claro que não. E as poucas que tivesse foram destruídas pelo terramoto. Cabe à ONU estar preparada para situações como esta e ser capaz de responder autonomamente. Fiquemos pelo menos com a lição aprendida para futuras tragédias, ocorram elas em países pobres ou ricos.
Voltando à vaca fria, aos militares, será das reportagens que apenas eu vejo, ou realmente não se vêem em lado nenhum os ditos soldados americanos. Não seria suposto estarem a acudir às populações?
ADENDA:
Haverá quem neste momento se questione por esta minha preocupação, mas se consultardes esta estóriaaqui contada no terreno, completa, sem leitura na diagonal e até ao fim percebereis melhor porque me interrogo sobre o raio do sítio onde estão acantonados esses soldados e a proteger o quê.
Não pairará para sempre nos olhos e mente dos socorristas o rosto incrédulo dessa criança, quase a ser resgatada mas que alguèm lhe virou os olhos e a condenou à morte?
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