Ao fim da tarde de 03 de Fevereiro, Vanessa Zepeda, uma enfermeira de 28 anos de idade, saiu de uma reunião no sindicato e começou a caminhar para o supermercado para comprar material escolar para seus filhos.
Não conseguiu.
De acordo com testemunhas, ao deixar o parque do sindicato, Zepeda foi forçada a entrar num sedan branco sem chapas de matrícula por dois homens mascarados e vestidos com uniformes.
Poucas horas depois de ser sequestrada, o seu cadáver, ainda vestido com a bata azul do hospital, foi lançado de um carro em movimento no bairro Loarque no lado sul da cidade, um conhecido bastião da resistência.
Zepeda era membro da Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), que, como muitos países, incluindo Brasil e Argentina, não reconhece o governo apoiado pelos militares do presidente Porfirio "Pepe" Lobo, que tomou posse em Janeiro, depois de muito contestadas eleições.
Zepeda era também uma líder no Sindicato dos Trabalhadores da Segurança Social. Antes do sequestro, participou numa reunião na sede da União de Sindicatos para falar sobre a necessidade de se juntarem com outros sindicatos para resistir pacificamente ao governo de Lobo.
"Vanessa era muito empenhada em ajudar os outros", diz Bessi Torrez, mãe de Zepeda, numa entrevista por telefone à revista "In These Times". (Torrez tinha concordado em reunir-se em público, mas, posteriormente cancelou devido ao medo de ser vista com um jornalista estrangeiro.) "Ela também trabalhou no duro para ajudar a unir sindicatos diferentes, para que pudessem consolidar os seus interesses. Ela sacrificou tudo pela Resistência ".
Depois do corpo de Zepeda ser encontrado, a mãe foi notificada e disseram-lhe para ir directa para a morgue, em vez da própria cena do crime. Quando Torrez chegou, não foi autorizada a ver qualquer uma das provas forenses ou registos da investigação.
"Foi muito estranho", diz ela. "O processo foi tão misterioso."
Desde o golpe de estado de Junho passado, vários dirigentes sindicais morreram igualmente em circunstâncias "misteriosas". Muitos hondurenhos acreditam que o governo apoiado pelos militares é o responsável por estes assassinatos. Dos 43 membros do FNRP que foram mortos, cerca de metade eram sindicalistas.
Gilda Batista, directora da organização de direitos humanos baseada em Tegucigalpa, Refúgio Sem Limites (ASL), investigou o assassinato de Zepeda e outros dirigentes sindicais recentemente executados. Batista diz que a sua investigação a leva a crer que os esquadrões da morte "estão a ser financiados por meios governamentais e militares."
Batista acredita que a execução de pessoas-chave como Zepeda "envia uma mensagem para a resistência de que os membros dos sindicatos serão assassinados se intrometerem na arena política." No caso de Zepeda, os especialistas forenses finalmente declararam o caso como homicídio, mas ainda não revelaram qualquer detalhe sobre a causa da morte. Mais de três semanas após a autópsia, Torrez ainda está a aguardar uma explicação do governo sobre o assassinato da filha.
"O governo de Lobo sabe que os sindicalistas são uma das suas maiores ameaças. O movimento sindical tem sido realmente fundamental para a resistência", diz Dana Frank, professor de história na Universidade da Califórnia, Santa Cruz, numa entrevista num gabinete de direitos humanos em Tegucigalpa. "Em Tegucigalpa, muitas das maiores reuniões de resistência acontecem no prédio daquela união sindical. Os sindicatos são uma ameaça porque eles têm uma visão mais ampla para as Honduras."
Não existem estatísticas governamentais detalhando quantos trabalhadores do país são sindicalizados, mas de acordo com o gabinete do Secretário do Trabalho das Honduras, existem actualmente 527 sindicatos, ou organizações nos locais de trabalho, representando tanto o sector público como o privado.
Embora o Departamento de Estado dos EUA reconheça o governo de Lobo, os assassinatos de líderes sindicais e outros abusos dos direitos humanos nas Honduras, chegaram a tal ponto que nove membros da Câmara dos Representantes enviaram uma carta a Hillary Clinton no início de Março, pedindo à secretária de estado para investigar a violência.
Ao estilo dos anos 80, à semelhança da Colômbia, os esquadrões da morte estão de volta nas Honduras. Sindicalistas e jornalistas são alvos preferenciais.
Fonte: "In These Times"