Já vai tarde
Foi-se mas deixou legado e que legado, 32.000 desaparecidos. É este o legado Álvaro Uribe, o carniceiro da Colômbia que agora deixa a presidência. O menino bonito de George Bush, o amparo de Obama para a América do Sul.
Os fantasmas de mais de 32.000 desaparecidos persegui-lo-ão por certo. Nem a vivenda-bunker num complexo policial de alta segurança onde se vai refugiar impedirão que esses fantasmas lhe batam à porta.
Quem sabe se não estarei dentro de pouco tempo a anunciar aqui que Uribe vai sentar o cu no mocho num tribunal da Colômbia. Na semana que passou alguns dos que estão a ser processados por espionagem ilegal de juízes, deputados e defensores de direitos humanos admitiram que seguiam ordens directas de Uribe, inclusive quando ameaçaram de morte vários opositores.
Um dos que está a ser julgado, Jorge Noguera, nomeado directamente por Uribe director dos serviços secretos (DAS), debaixo de cujo mandato os serviços secretos entregaram aos paramilitares dados sobre líderes sociais e sindicais que depois foram assassinados.
Uribe despede-se da Presidência da Colômbia na mesma altura em que a Procuradoria-Geral acaba de empreender um censo nacional sobre cadáveres enterrados como "NN" (sem nome) ao longo de todo o país, com o fim de cruzá-los com os 32.348 desaparecidos que tem registados a Unidade de Justiça e Paz, um número superior à soma dos desaparecidos em todas as ditaduras da América Latina!
Grande parte desses mortos sem nome já foram confessados como vítimas de massacres pelos chefes paramilitares que se acolheram sob sentenças benignas por confessar as suas acções.
Pelo menos 1.700 das vítimas são "falsos positivos", jovens assassinados e apresentados de imediato como guerrilheiros mortos em combate. Há poucos dias, o procurador da região de Nariño ordenou a detenção de 24 militares do Batalhão Boyacá por matarem 20 pessoas, entre 2007 e 2009, indigentes e camponeses para fazê-los passar por guerrilheiros mortos em combate. Um deles era um deficiente que não podia mover os braços e que foi apresentado junto a uma espingarda...
Em muitos dos casos que a procuradoria agora investiga como "NN", os corpos das vítimas eram enterrados em cemitérios clandestinos próximos a quartéis militares, como é o caso em Macarena, perto de uma guarnição de elite do exército na região de Meta, onde há uma fossa com cerca de 2.000 cadáveres sem identificação. É para afastar as atenções deste caso que Uribe montou o recente "circo" em torno da Venezuela.
É esta a porta por onde sai Uribe. Teve o cuidado de deixar no seu lugar o delfim e seu vice-presidente Juan Manuel Santos, não vá o diabo tecê-las. Eu que não sou crente por vezes tenho "fé" no diabo...