Está na cara que esta coisa de cortes e tectos salariais são para aplicar a todos, com as devidas excepções, que é como quem diz a todos menos àqueles que são verdadeiramente amigos.
O exemplo mais eloquente do que acabo de afirmar é a decisão do governo de aplicar um tecto aos salários dos gestores públicos, com excepção dos seus amigos que estão na TAP e na Caixa Geral de Depó-sitos, é claro.
Podia lá ser de outra maneira, então não se está a ver que na Caixa aqueles gestores desempenham os seus cargos em sistema de concor-rência com a banca privada? Foi pelo menos este o argumento do governo. À primeira vista até seria quase levado a concordar, mas o que parece nem sempre é.
Estou careca de afirmar que nunca se deve tapar com uma mão o que o diabo destapa com duas e o Belzebu uma vez mais vem alertar-me que tudo isso é conversa fiada, que na excepção Passos Coelho apenas procurou proteger os seus, aqueles que o ajudaram a alcançar o poder e que desempenham a seu mando o cargo de administrador naquelas duas empresas. Podia lá ser de outra maneira, logo com o Tó Nogueira Leite, teríamos o caldo entornado e a conversa avinagrada, teríamos a amizade desfeita pela certa. Apoio retribui-se com igual apoio e protecção.
"Estás a ser demasiado radical", estou a ouvi-lo claramente, é o que muitos de vós estarão neste momento a dizer. Coço a orelha e continuo na minha, se assim fora a tal coisa da concorrência, o princípio não se aplicaria de igual modo a todos os que ali trabalham? Não estarão todos a tentar ser mais competitivos com a restante banca e a cuidar de ter o maior número de negócios e clientes? Se calhar não...
O governo e a sua equipa na administração da Caixa afirmam que não, que a excepção só faz sentido para os administradores, porque não é verdadeiramente a Caixa que está em concorrência com o BCP, com o BES ou BPI, os cargos é que são concorrenciais uns com os outros, ficas tu no BES, eu vou para a Caixa e o Alfredo vai para o BPI, depois trocamos, não dá jeito nenhum é ficarmos com salários e mordomias diferentes, topam?
É claro que, nesta como em outras matérias há sempre quem no primeiro ímpeto se coloque ao lado dos cortes governamentais e no caso da Caixa ao lado do Tó Nogueira Leite, a solidariedade com o partido a isso obriga, o problema é quando chega a hora de receber o carcanhol, feitas as contas, “foi mais uma 'talhada' do caraças” é a exclamação que mais se ouvirá proferir nos corredores daquela empresa nos tempos mais próximos, enquanto no nono piso daquele elefante branco, ali à Av. João XXI, pelo meio de uma almoçarada bem regada, se prepara a privatização do ramo segurador do grupo.