O Moita gosta de fazer flores
O homem diz ter jeito para escrever novelas, às vezes não resiste a nelas participar, não sabe o papel mas improvisa ao sabor do momento e do cenário, inevitavelmente despista-se e acaba por não dizer coisa com coisa, mas para ele mesmo as partes gagas parecem fazer todo o sentido, afivela um sorriso e garante a si próprio: "eles papam tudo desde que bem embrulhado".
Se fosse a ele não teria tanta certeza, pode ser que se cruze na rua com alguém que lhe diga alto e bom som: "vai enganar a tua tia oh farsante!" Podem até mesmo mandá-lo desconversar com o Carvalho de Araújo, aquele que foi ao fundo com o tiro de metralha dos alemães, que raio, tem sempre que haver alemães pelo meio...
Calma, calma que eu passo a explicar, as nossas televisões de vez em quando repetem alguns programas o que leva a que desprevenidos como eu acabem por apanhar com eles no meio do café e das palavras cruzadas. Foi o que me aconteceu com um programa em que participa-vam Alberta Marques Fernandes, o agora ex-candidato à agremiação do milhafre, Rui Rangel, mais o génio das novelas, Moita Flores e o amigo do peito da Ministra da Justiça, Marinho Pinto.
Estava eu a fazer as palavras cruzadas e muito sumidamente ouvia-os perorar, não lhes prestava muita atenção entretido que estava a conseguir meter parte de um batalhão apenas em três letras, algo no entanto retiniu na minha cabeça, levantei-a mas não apanhei a tempo o motivo que desencadeara a reacção no meu cérebro, ah mas esperem lá, a coisa agora resolve-se bem com as novas funcionalidades disponibiliza-das pela minha operadora, "ver do inicio", bora lá, com o comando colo-quei o programa no exacto momento em que o Moita Flores alarvemente metia a sua "bucha" defendendo que o presidente da República deveria submeter o Orçamento, mal seja aprovado, à fiscalização preventiva do tribunal Constitucional:
"Dessa forma não corremos o risco que corremos este ano de corporações mais ou menos radicais e de pessoas mais ou menos ofendidas fazerem este recurso para o Tribunal Constitucional e depois a meio do ano sermos sujeitos a um golpe tão violento como aquele que estamos a viver neste momento".
Para o Moita enquanto a pimenta estivesse exclusivamente no cu dos funcionários públicos a coisa ia bem porque é das novelas e outras "actividades" privadas que tira a maior parte dos seus rendimentos. Ladino defende agora que o presidente submeta o Orçamento ao Tribunal Constitucional, garantido que está o controlo daquele órgão após as últimas mexidas. "Ora, ora, agora até nos podemos dar a esse luxo, pensava o Moita, enquanto distribuía flores pelos seus pares de debate.
Não se ficava por aí, aproveitava o balanço e metia outra bucha:
"Acho espantoso, o Orçamento está na Assembleia da República e são os próprios actores na Assembleia que em vez de usarem dos mecanismos de retórica, de palavra, de argumentação no sítio próprio, que antes de começar o debate já estão a ameaçar com o Tribunal Constitucional, o que significa que os nossos deputados nem a si próprios dão muito crédito, é de facto uma imagem confrangedora".
Ria-se alarvemente ao mesmo tempo que a baba lhe escorria pelos cantos da boca, valeu-lhe Marinho Pinto que solicitamente puxou de um lenço de papel e que enquanto lhe limpava a baba lhe perguntava: "Você acha que a maioria se deixa convencer pelos argumentos da oposição?"
Lá voltei eu às palavras cruzadas, a propósito, alguém sabe um sinónimo de porco com cinco letras? Não, não é Moita, deixem-se de merdas, ah já sei, é suíno, reco só tem quatro.