Nos Estados Unidos não há dissidentes, nunca houve...
Imaginem que um cidadão de um dos países do chamado eixo do mal, Cuba à cabeça, embarcava num avião com algumas cartas com o carimbo de confidencial e aterrava em Terras do Tio Sam. Digam lá se estou a ser mal-intencionado ou se o dito cidadão não era de imediato considerado herói, promovido a dissidente e se não era passeado pelo país em incontáveis conferências depois lhe ter sido concedida a cidadania norte americana?
Agora por momentos imaginem a cena ao contrário, o cidadão é norte-americano, trabalhou para a CIA, farto do que viu, sai do país com um computador portátil onde carrega as provas de que o governo de Obama espia descaradamente todo e qualquer cidadão nos quatro cantos do mundo, nem os seus escapam, tudo feito através dos mais requintados métodos dos serviços secretos, tudo escondido sob o sorriso ou o aperto de mão daquele a quem alguém se lembrou de atribuir um Nobel da Paz. Espião e terrorista, está bom de ver, qual herói, qual dissidente.
O mais certo é ouvirmos dizer um destes dias que o mesmo foi extraditado, depois de profundas ameaças ao país que no momento o acolher, não sendo de pôr de parte que o mesmo possa morrer de inesperado ataque cardíaco, ser mortalmente atropelado ou envenenado por uma dose de cogumelos que inadvertidamente apanhara e cozinhara.
Enquanto isso o "dissidente" cubano Guillermo Fariñas recebeu nesta mesmíssima semana no Parlamento Europeu o Prémio Sakharov da Liberdade de Pensamento que lhe foi atribuído em 2010.
Sobre Guillermo Fariñas escrevi mais do que uma vez, nomeadamen-te aqui. Foi também em nome do direito de "dissidência" face ao govvno de Washington que Portugal, Espanha, França e Itália impediram que o avião do presidente de um país soberano, com o qual mantêm relações diplomáticas, pudesse em conformidade com todas as normas e tratados internacionais sobrevoar ou aterrar num desses países.