Janela de oportunidade
Habituei-me a vê-la em programas desportivos, posso afirmar que ela até levava jeito para a coisa. Quando a vi agora com frequência como pivot do segundo canal da estação pública disse cá para os meus botões: é merecido.
Não foi pois por acaso que há dois dias (ou terão sido três?) agarrado ao comando da box da Zon como um náufrago a uma tábua, na esperança de ouvir notícias do meu país já que o vento nada me traz, pelo menos com um pouco de isenção e decoro, parei na RTPN que na altura me entrou pela casa dentro. Vinham em par, Cecília Carmo e Joaquim Letria, pode ser desta disse cá para comigo.
Tirei o cão do sofá não fosse ele distrair-me com alguma inoportuna lambedela e lá me instalei, é desta, voltei a mentalizar-me, juro que até me lembrei do Meirim.
O tema era a compra do BPN, não podia ser outra coisa, tinha sido anunciado o comprador, coisa que ninguém terá estranhado sabendo o que a casa gasta nesta matéria dos negócios.
Lá repetia a Cecília que Mira Amaral tinha concluído um óptimo negócio, comungando da opinião da filha do soba de Luanda.
"O que é que acha Joaquim?" Perguntava a Cecília. Respondia o Letria, "bem eu acho...", aqui a Cecília atalhava, "bem vistas as coisas o BIC é um importante banco com imensa credibilidade, não é Joaquim?" "Bem eu...", ensaiava o Letria, atalhava de novo a Cecília, "o NEI (um dos concorrentes ao negócio) terá que justificar porque foi preterido".
Nesta altura já o Boss estava novamente em cima do sofá e tentava desesperadamente lamber-me a mão que eu tinha cravada no comando, ele já me conhece, e tenta a todo o custo acalmar-me, sabe bem que à noite sou eu que lhe sirvo a ração. Está bem, vamos lá, que já estou a ficar com azia.
Na hesitação se havia de mudar ou desligar a box ainda ouvi o Joaquim: "bem, Passos Coelho ainda não mentiu, que eu desse por isso". E riam os danados...

