Em noite de reis, com o rei na barriga
Sei de antemão que vão fazer-me o reparo de que eu tenho os meus ódiozinhos de estimação, claro que os tenho, mas deixem dizer-me uma coisa, tarde ou cedo eles serão também os vossos. Dois deles já foram de vela, Sílvio Berlusconi e Álvaro Uribe, mas nunca fiando que é gente para voltar. Dizem-me alguns amigos que desenvolvi um outro, este mais caseiro, e que não valeria a pena perder um minuto com ele. Que é que eu vos hei-de dizer, tiram-me do sério as figurinhas rasteirinhas e visco-sas, Mário Crespo tem os dois requisitos.
Prosseguiu hoje a sua cruzada contra as greves, dispõe de uma hora em canal nacional, utiliza-o até ao último minuto, uma vez mais malhou e convidou a malhar sobre as greves dos transportes. Teresa Caeiro não se fez rogada, sem saber muito bem o que dizia lá ia afirmando que o Crespo tinha toda a razão e lembrou que é "hora de mobilização geral de todos os cidadãos". Tenho quase a certeza que deve ter passado o fim de ano na companhia de Alexandre Soares dos Santos, da Jerónimo Martins, devem ter rido à gargalhada, entre o champanhe e o charuto, por isso é que a senhorita está gorda e avacalhada, depois vêm com a desculpa dos filhos, vai lá vai, tão pequeninos e já arcam com os desvarios da mãe.
E lá continuava ela agitando grotescamente as mãos, "estas greves são gravosas", como se houvesse alguma que o não fosse, desde logo para os trabalhadores que as fazem e que as pagam do seu bolso.
Ternurinha mesmo foi ver Mário Crespo afirmar que não se pode "negociar" com tamanha proliferação sindical, logo esta gente que mais do que ninguém a incentivou.
Já me esquecia de dizer que estava outra figurinha presente, Alberto Martins ex-ministro da Justiça, que a medo, meio envergonhado, quase que pedindo desculpa pelo que ia dizer, lá ia gaguejando que as coisas não eram bem assim e que já tinha reunido com sectores onde havia muitos sindicatos. Mal feito fora, oh Alberto, ajudaste a criá-los e depois deixava-los à porta?