Portam-se como ladrões
Cada vez mais são as vozes peruanas que exigem dos Estados-Unidos, a devolução ao Perú de mais de 40 mil peças arqueológicas saqueadas das ruinas incas de Machu Picchu pelo norte-americano Hiram Bingham. Várias têm sido as manifestações na sua maioria mulheres, que se concentram na praça principal da cidade andina de Cusco, capital da região com o mesmo nome, onde se encontra Machu Picchu, para reclamar a devolução.
O último protesto foi encabeçado pela presidente Conselho de Defesa do Património Natural e Cultural de Cusco, (organização não governamental) Marina Tagle de Rebatta.
Os manifestantes empunharam bandeiras peruanas e do Tahuantinsuyo - Império dos Incas, de que Cusco foi capital - como gesto de protesto pelo saque das peças arqueológicas.
Hiram Bingham levou as peças para a universidade de Yale com a promessa de devolvê-las depois de as estudar, tendo escavado e explorado com regime de exclusividade as ruinas, depois de lá chegar em 1912 e proclamar-se descobridor, pese embora o santuário inca fosse conhecido por muitos cusquenhos e alguns estrangeiros.
O governo peruano iniciou há um ano negociações com a universidade de Yale sobre o chamado tesouro de Machu Picchi, que formalizaram num convénio mas que não garantia a devolução das peças, razão pela qual foi recusado pelas organizações cusquenhas e diversas personalidades.
O executivo aceitou então reclamar o regresso dos objectos de ouro e outros metais, assim como cerâmica, saqueados por Bingham, e o ministro Garrido Lecca, deixou aberta a possibilidade de contratar advogados para conseguir a devolução.
A posição peruana foi apoiada pela National Geographic, que patrocinou conjuntamente com a Universidade de Yale a expedição de Bingham em 1912.
A National Geographic garantiu que as peças arqueológicas retidas pela univerdidade de Yale foram entregues a Bingham a título de empréstimo, por um período de tempo que expirou há muito tempo, pelo que o tesouro já devia ter sido devolvido.
O ministro peruano Garrido Lecca ofereceu no princípio do mês passado a Yale a possibilidade de a universidade participar nos estudos das peças, para o que se celebraria um acordo depois da devolução, mas nem assim.
Os Estados-Unidos usurpam um tesouro que não é seu. o Perú fica sem estes testemunhos históricos, que todos os que vão a Machu Picchu gostariam de ver, devidamente enquadrados com o seu passado. E o mundo que fica mais pobre.