Do passa palavra ao reino dos crentes
Já aqui falei nele, do puto Guerreiro que procura nas palavras os moinhos de Quixote, esbraceja compondo, medindo e desenhando as palavras a régua e esquadro a que junta um indispensável tira-linhas. No fim mira, remira, será que passa? Passa, exclama vaidoso. "Passa a palavra" é o seu último "desenho" no Jornal de Negócios.
Desta vez mexeram-lhe no bolso, já não é só o orgulho ferido, junta no esquiço as palavras a negrito na forma de uma pergunta para a qual sabe a resposta mas que não cabe no "boneco" que pretende compor: "Porque se as hipóteses de salvação são exíguas, elas serão nulas se o país estiver indisponível. Está o País disponível? Vamos "manter a coesão", como pede Vítor Gaspar? Eis a grande questão. Saber se estamos para isto. Mais que na falta de criatividade nas medidas, mais que na falta de negociação externa, o Governo falha quando propõe um contrato aos portugueses com base numa única premissa: porque o País é deles. Nosso."
Pedro Guerreiro sabe bem que no momento o país não é nosso, alguém o anda a vender aos pedaços, sabe também que o povo, mesmo votando da forma que vota, não está nem nunca estará disponível para viver subjugado. Viveu décadas debaixo do jugo dos Filipes, não poderá viver eternamente debaixo do jugo de Merkel, Passos e Gaspar. Poderá demorar a despertar da letargia e da "ameaça" em que o afundam, mas despertará, nessa altura o desenho do Guerreiro será outro, mas no fundo no fundo o mesmo traço, a mesma régua e esquadro a que não faltará o indispensável tira-linhas...
Enternece-me a forma como “arredonda” as palavras, "não basta tocar o clarim para que os portugueses voltem para dentro do barco de que foram expulsos com a TSU", capricha ele, escamoteando que o povo esteve sempre fora do barco, só sendo chamado quando é preciso remar.
O desenho não ficaria completo sem um pormenor, uma curva mais acentuada: "estamos mais pobres, mas há cada vez mais ricos". Não será bem assim Pedrocas, ora vê lá se não fica melhor desta maneira: “estamos mais pobres, mas há ricos que estão cada vez mais ricos”, é que da maneira como colocas as coisas já pareces Joaquim Aguiar, conselheiro político de Pinheiro de Azevedo, Ramalho Eanes e Mário Soares, que hoje dizia na TV que "os salários dos pobres ainda estão muito altos para a produtividade do país"…
Está bem eu sei que o Pedro também não quer a realidade toda, talvez por isso não resistiu a colocar a assinatura: "Cada português tem de decidir se acredita nisto. Se desiste, se se rebela. Ou se acredita, tira o sangue das pedras, paga impostos, luta pela sua vida e pela dos outros. Sim, é uma decisão cada vez mais individual. Porque está a tornar-se uma decisão de fé. Para ocupar com palavras os milhões de espaços em branco."
É Pedro, poderá ser uma questão de fé, mas olha que já não haverá assim tantos crentes e os poucos que restam nem mesmo indo a Fátima a pé ou de joelhos, e as decisões num país são sempre colectivas e nunca individuais, é o umbigo que nos mata.