Vrum, vrum
Há palavras, melhor dito, interjeições, que me saem espontaneamente sempre que me tocam em qualquer ponto que no momento esteja mais sensível, não dá como segurá-las, aconteceu-me ainda hoje quanto passava em revista as notícias do dia, lá estava escarrapachado numa delas que o grupo parlamentar do PS vai substituir quatro viaturas, cujos contratos de renting acabaram, por outras tantas de topo de gama, nem as ouso publicar porque também sei que por aqui passam almas sensíveis, às vezes escapam, é a língua de Camões, Gil Vicente e José Maria Du Bocage a dar corpo ao que de mau me passa pelas vistinhas.
Não havia necessidade, é pura ostentação. Quando a esmagadora maioria do povo conta os tostões há gente que lhe passa pela cabeça que o prestígio se vê pela marca do carro ou do número de cavalos que o puxam. Esta afeição pela cilindrada já vem de longe no caso de Zorrinho, ainda estamos recordados das cenas gagas do homem da lambreta que acabou por estrear o popó que lhe era destinado, mas ao mesmo tempo revela igualmente afeição pela patetice. Substituição ou compra de carro é coisa que está a deixar de fazer parte do léxico familiar, mas o intré-pido Zorrinho ao mesmo tempo que avança para os popós, como nada se estivesse a passar no país, avança também com a proposta da redução do número de deputados porque, diz ele, é preciso dar um sinal de moralidade ao país...
E quando alguém, a quem a coisa não assentou lá muito bem, resolveu publicar a notícia, respondeu-lhe na hora e com virulência: "poderão ser de luxo mas até têm menos cilindrada que os agora substituídos. Ora toma e embrulha!" disse Zorrinho sentado num dos fardos de palha com que alimentará os cavalos das viaturas.
Só espero que não se distraia, é que a palha também está cara...