Advogado do Diabo
Ora aí está um gestor que sabe cuidar do seu negócio, o das almas, quanto mais enterrado estiver o país e o povo mais próspero o seu nicho de mercado. Enchem-se os cofres com as montanhas de cera queimada, enchem-se igualmente as caixas das esmolas daqueles que em desespero se agarram à fé na vã ilusão que aconteça um milagre e ali depositam o que em alguns casos tiram à boca. Policarpo faz farte daquele grupo restrito de pessoas que se alimenta da desgraça alheia.
Ao longo de dois milénios a igreja de Policarpo mantém a mesma matriz, quanto pior melhor, o reino dos céus em troca dos últimos despojos.
Dom José Policarpo, fervoroso seguidor dos ensinamentos do cardeal Cerejeira de má memória se bem que agradado com o crescente volume de negócios demonstra no entanto nas últimas semanas medo do próprio rebanho que diz conduzir.
Com o avolumar das manifestações de descontentamento popular Poli-carpo sobressalta-se receoso que as ovelhas se revoltem e lhe acabem com a safra que se tem mostrado generosa desde que Passos Coelho ocupou a cadeira à sua direita, Fátima rebenta pelas costuras.
Preocupado com os ventos que sopram de Norte a Sul, que ameaçam ser de mudança, sente necessidade de subir ao púlpito e dali conduzir para o redil as ovelhas que ameaçam tresmalhar, não hesita e recorre ao velho mestre Cerejeira de quem cedo recebeu os ensinamentos:
"Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações. Sejamos objectivos e tenhamos esperança que há sinais positivos, este sacrifício levará a resultados positivos não apenas para nós mas para a Europa. Até que ponto é que nós construímos uma saúde democrática com a rua a dizer como é que se deve governar?”. Estas as palavras de Policarpo que poderiam ter sido de Cerejeira.
Passos e Gaspar, Portas e Isabel Jonet têm em Policarpo um aliado de peso, balão de oxigénio que é sempre útil principalmente nesta altura em que reabrem os circos romanos e voltam a lançar os "cristãos" às feras.
Cada vez é mais difícil distinguir deus do diabo.