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Salvo-conduto

A erva daninha cresce todos os dias

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Salvo-conduto

18
Fev13

Fumo negro

salvoconduto

 

 

Passam Papas sobre Papas e a Igreja Católica permanece igual a si própria, hoje como ontem alia-se aos mais poderosos, defende os ricos, reserva para os pobres o fermento que a sustém, a caridade.

 

Chamam de herói um papa pela única razão de estar velho e ser obrigado a resignar porque o corpo e a mente atingiram o prazo de validade, o único rasgo que se lhe reconhece é a recusa em passar pela mesma humilhação de João Paulo II, de ver o seu corpo ser arrastado numa feira de loucuras até ao humanamente impossível, um espectáculo grotesco.

 

Enquanto o fumo não vira branco lá longe onde a igreja mais castigou, mais criminosa e conivente foi, um povo teima em limpar o seu passado, julgando-o, condenando-o, não se coibindo de nesse julgamento incluir a Igreja Católica que por aquelas paragens sujou as mãos no sangue de inocentes, no sangue dos seus próprios partidários.

 

É uma vez mais na Argentina que se faz justiça acertando-se contas com o passado, julgando os crimes cometidos pela ditadura que governou aquele país entre 1976 e 1983. Desta feita porém os magistrados não deixaram passar em claro a cumplicidade da igreja católica e em pleno julgamento do assassinato dos sacerdotes Carlos de Dios Murias e Gabriel Longueville, pelo qual condenaram a prisão perpétua os responsáveis pelo duplo crime: o ex-comandante do III Corpo do Exército, Luciano Benjamín Menéndez, o vice-comandante Luis Fernando Estrella e o ex-comissário Domingo Benito Vera, deixaram lavrada a seguinte declaração: "Segura-mente os membros do povo de Deus, assim como a generalidade da sociedade argentina, esperam duma instituição de tanto significado como a Igreja Católica uma atitude de mais nítido e claro repúdio aos mecanis-mos e a quem, de uma maneira ou outra, permitiram e consentiram a realização de gravíssimos acontecimentos como os que agora julgamos".

 

Os magistrados falaram de "indiferença", mas também de conivência com o aparato repressivo, fundamentalmente no que respeita aos ataques ao Movimento de Sacerdotes do Terceiro Mundo (MSTM), uma corrente progressista dentro da igreja católica da América-latina que trabalhava com as comunidades pobres e que desde a década de 60 se confrontava tanto com os sectores mais conservadores da hierarquia eclesiástica como com o poder económico.

 

Ao longo de 417 páginas, os juízes José Camilo Quiroga, Jaime Díaz Gavier e Carlos Júlio Lascano expuseram que "não se tratou de factos isolados e fora de contexto, presididos por motivações particulares", mas sim "de um plano sistemático de eliminação de opositores políticos". Os padres assassinados "formavam parte dum grupo da Igreja considerado 'inimigo' do Vaticano, e a cúpula eclesiástica estava a par de tudo isso", antes e depois dos crimes, já que vários membros do executivo da Conferência Episcopal argentina se reuniram com o ex-ditador Jorge Videla em 1978, um revelador encontro que a sentença não deixou de mencionar.

 

Por estes dias a cúpula da igreja católica reúne-se de novo, não para criticar o seu passado ou saltar para o lado dos oprimidos, mas apenas para encontrar um substituto que garanta a continuidade. O fumo continuará a sair negro, não na chaminé do Vaticano, mas certamente onde a mesma lançar os seus tentáculos.

 

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