O senhor padre queria cumprir prisão perpétua no domicílio!
A Câmara Nacional Penal da Argentina recusou uma petição do ex-capelão da polícia de Buenos Aires, Christian Von Wernich, para cumprir em prisão domiciliária a pena por delitos contra os direitos humanos durante a última ditadura militar.
Von Wernich foi condenado a prisão perpétua pela sua responsabi-lidade em 8 homicídios, 42 raptos e 32 casos de torturas.
A defesa do capelão argumentava com a idade do padre, 70 anos. A lei argentina estabelece a possibilidade de prisão domiciliária para os maiores de 70 ou para quem padeça de enfermidade em estado terminal, mas os juízes decidiram que para além dos direitos humanitários é necessária a consideração da natureza e gravidade dos delitos imputados e esses não oferecem dúvidas.
Von Wernich foi o primeiro sacerdote da Igreja Católica a ser julgado por delitos de lesa humanidade. Infelizmente nem todos foram julgados.
Von Wernich foi acusado de ter abusado da sua posição como padre para obter informação de presos políticos durante a confissão.
Um dos mais atrozes crimes em que participou foi o do "Grupo dos Sete" estudantes que quebraram na confissão e que de seguida foram mortos. Ele visitava os familiares dos sete estudantes pedindo dinheiro e dizendo-lhes que as crianças seriam libertadas rapidamente se cooperassem. Prometeu o mesmo aos estudantes, como no caso de Cecilia Idiart que mais tarde foi morta.
O relatório "Nunca Mais" elaborado pela Comissão Nacional para os desaparecidos (CONADEP), contém importante informação acerca do papel desempenhado por Von Wernich durante a repressão e na sua cumplicidade com a tortura e as detenções arbitrárias. O relatório reproduz vários testemunhos implicando o clérigo.
Um oficial argentino, por exemplo, que tomou partes na morte de um membro da oposição, na presença de von Wernich, mais tarde testemunhou: "o padre von Wernich viu que o que aconteceu me chocou, e virou-se para mim dizendo-me que aquilo era o que tinha que ser feito; que era um acto patriótico e que Deus sabia que isso era para o bem do país."
Depois da ditadura Von Wernich fugiu para uma igreja de Parish, 250 quilómetros de Buenos Aires onde permaneceu até 1996. Depois disso, mudou-se para o Chile onde trabalhou como padre em El Quisco sob o nome falso de Cristian Gonzalez.
Em 2003, foi ali localizado por Hernan Brienza, um jornalista que estava investigando o seu envolvimento dos crimes e que publicou um livro "Maldito és", um livro acerca dos laços de von Wernich com o regime repressivo na Argentina.
Foi preso em 2003, julgado e condenado a prisão perpétua em 16 de Outubro de 2007 e viu agora indeferida a sua petição.
Para o bem da sua alma que o deixem a apodrecer na prisão.