Matança na Faixa de Gaza
Passaram apenas quatro dias desde que aqui dei conta dos planos bélicos do governo de Israel, que em processo de eleições internas, resolve trazer para a campanha eleitoral aquilo que parece dar mais votos aos candidatos em confronto, a violência gratuita ou desproporcionada.
No ataque mais mortífero desde há várias décadas, as forças militares israelitas lançaram cerca de 40 mísseis sobre a Faixa de Gaza, causando dezenas de vítimas. O número continua a aumentar nas últimas horas e neste momento o número de mortos palestinianos eleva-se a 230, a maioria deles na cidade de Gaza, 700 feridos, muitos deles graves e ainda estão a ser resgatadas pessoas debaixo dos escombros.
A adensar ainda mais o cenário do massacre é preciso ter-se em conta que o bombardeamento produz-se no momento em que as autoridades egípcias se encontravam num processo de mediação para restabelecer a trégua que tinha sido fixada em 19 de Junho passado e que se tinha prolongado por seis meses.
Cerca de 1,5 milhões de pessoas vivem em Gaza, mais de metade dos quais são refugiados dos diferentes conflitos entre palestinianos e israelitas nos últimos anos. A cidade de Gaza tem uma das maiores densidades de população do mundo, assim como uma importante taxa de crescimento demográfico.
O ataque tem, como já aqui ficou claro, como principal objectivo acabar com o governo do Hamas em Gaza que, recorde-se, ganhou o poder em eleições livres.
Assistimos a um espectáculo que foi cuidadosamente planeado, assim o demonstram as palavras proferidas por Tzipi Livni, ministra dos negócios estrangeiros, transcritas neste blogue há quatro dias. O que podemos esperar é que as vítimas serão muitas. Estamos perante uma catástrofe humanitária de dimensões incalculáveis.
Os políticos israelitas têm competido para ver quem lançava ameaças mais duras, ávidos de ganhar o apoio de um eleitorado que nos últimos dias se inclinaram em favor dos partidos da ultra-direita.
Esta escalada verbal terminou com o maior bombardeamento dos últimos anos. E lançou uma clara mensagem ao novo inquilino da Casa Branca, Barak Obama. Uma mensagem de factos consumados procedente de um país que durante a campanha eleitoral norte-americana disse preferir o candidato republicano e que teme que Obama mostre uma maior compreensão pelos palestinianos que os seus predecessores.
O presidente palestiniano, Mahmud Abbas, condenou os ataques e pediu a intervenção internacional para deter estes ataques. Sabendo-se como se sabe que Israel contará com o apoio e o poder de veto dos Estados Unidos na ONU, seguem-se, como é habitual, as tímidas condenações. O chefe da política externa da União Europeia, Javier Solana, "exigiu" um cessar fogo, o presidente em exercício da União Europeia, Nicolas Sarkozy idem. O primeiro-ministro britânico Gordon Brown expressou "profunda preocupação" pelos últimos desenvolvimentos do conflito e apelou ao fim da violência. O secretário geral das Nações Unidas, Ban-Ki Moon, mostrou-se alarmado pelo derramamento de sangue ocorrido e "sugeriu" um imediato cessar fogo para evitar a continuação da violência.
Enquanto isto, preparamo-nos para "festejar" a passagem de um ano em que a violência extrema esteve sempre presente. E pela forma como acaba podemos ter a certeza de que para o ano haverá mais...