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Salvo-conduto

A erva daninha cresce todos os dias

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Salvo-conduto

15
Jan09

Outra face da guerra de que ninguém fala

salvoconduto

Para lá das manchetes do conflito do Médio Oriente, há uma batalha pelo controlo dos parcos recursos hídricos na região. há uma realidade histórica de guerras pela água, ninguém se deve esquecer que foram as tensões sobre as fontes do Rio Jordão, localizadas nos Montes Golã, que precederam a Guerra dos Seis Dias.

Na guerra de Israel em Gaza, porque não fala sobre a água, um dos pontos principais nos conflitos no Médio Oriente, uma região aonde água vale mais do que petróleo? Porque nos passam sempre a ideia de que ali as guerras ocorrem por causa e de uns quantos rockets ou por causa das reservas de petróleo?

E a conquista das reservas de água? Já Adnan Badran, vice-diretor geral da UNESCO, Em 1997, afirmava que "a água substituirá o petróleo como principal fonte de conflitos no mundo".

Não é por acaso que Israel, com sérios problemas com recursos hídricos, não larga mão do controlo dos suprimentos de água tanto seus como da Palestina. Não é por acaso que para além de restringir o uso da água, luta pela expansão do seu território para obter mais acesso e controlo deste recurso natural.

Israel tornou-se "dono":

- das águas superficiais: bacia do rio Jordão (incluindo o alto Jordão e seus afluentes), o mar da Galileia, o rio Yarmuk e o baixo Jordão;

- das águas subterrâneas: 2 grandes sistemas de aquíferos: o aquífero da Montanha (totalmente sob o solo da Cisjordânia, apenas com uma pequena porção sob o Estado de Israel), aquífero de Basin e o aquífero Costeiro que se estende por quase toda faixa litoral israelita até Gaza.

Tais águas são 'transfronteiriças', recursos naturais compartilha-dos. Há regras internacionais para o uso dessas águas. Algumas destas obrigam Israel a fornecer água potável aos palestinianos. Mas Israel não compartilha a água; afinal, tais regras interna-cionais não prevêem mecanismos de coação ou coerção; é letra morta para Israel. Como se pode acreditar no Tribunal Internacional de Justiça se, até hoje, condenou apenas um caso relacionado com águas internacionais?

A estratégia de Israel é outra. Em 1990, o jornal Jerusalém Post publicou que "é difícil conceber qualquer solução política consistente com a sobrevivência de Israel que não envolva o completo e contínuo controlo israelita da água" . Palavras do ministro da agricultura israelita sobre a necessidade de Israel controlar o uso dos recursos hídricos da Cisjordânia através da ocupação daquele território.

E na Guerra pela água vale tudo: os israelitas bombardeiam tanques de água, grandes ou pequenos (muitas vezes construídos nos telhados das casas), confiscam as bombas de água, destroem poços, proíbem que explorem novos poços e novas fontes de água (a Cisjordânia, em 2003, contava com cerca de 250 fontes ilegais e a Faixa de Gaza, com mais de 2 mil). Israel irriga 50% das terras cultivadas, mas a agricultura na Palestina exige prévia autorização de Israel.

Deitar a mão à água é coisa antiga. Britânicos e franceses no Médio Oriente definiram as fronteiras (em especial da Palestina) de olho nas águas da bacia do rio Jordão.

- em 1967, Israel anexou os territórios palestinianos de Gaza e Cisjordânia e tomou da Síria os Montes Golã, ricos em fontes de água, para controlar os afluentes do Rio Jordão.

- em 2002, a construção do 'muro de segurança' viabilizou o controlo israelita da quase totalidade do aquífero de Basin, um dos três maiores da Cisjordânia, que fornece 362 milhões de metros cúbicos de água por ano. Segundo Noam Chomsky, "o Muro já abarcou algumas das terras mais férteis do lado oriental. E, o que é crucial, estende o controlo de Israel sobre recursos hídrico críticos, dos quais Israel e seus colonatos podem apropriar-se como bem entenderem."

- antes de devolver (simbolicamente) a Faixa de Gaza, Israel destruiu os recursos hídricos da região. E, até hoje, não há infra-estrutura hídrica nas regiões palestinianas.

Quantos falam a respeito disto? Porque se silencia este lado oculto desta guerra? Tenho quase a certeza de que outro dos dramas desta invasão de Gaza será a falta e a contaminação da água.

 

Fontes: Extraído parcialmente de Agência Carta Maior e The Guardian

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