Cavalgar na crise
Será descabido, em tempo de crise, os trabalhadores, nomeada-mente das empresas que geram lucros avultados exigirem aumentos de salários justos?
Vem esta interrogação a propósito de uma nota que me chegou à mão onde se dá conta que, por causa da crise, a Caixa Geral de Depósitos apenas prevê um aumento para os seus trabalhadores de 0,9%.
Quando me dou conta que este banco continua a apresentar lucros astronómicos, quando me dou conta que enterra milhões e milhões no BPN e BPP e o mesmo o faz com Joe Berardo, questiono-me se não terão sido os trabalhadores os responsáveis pela crise, pelas falcatruas daqueles bancos e se não serão igualmente responsáveis pelos devaneios de Berardo.
A não ser assim, não se compreende a atitude de Faria de Oliveira, presidente do conselho de administração daquele banco. Estará Faria de Oliveira convencido de que é preciso enterrar mais e à cautela usurpa dinheiro que deveria ser destinado a pagar justamente a quem ali trabalha?
Quem lê aquela nota não pode deixar de estranhar, quando se sabe que os trabalhadores daquele banco seguem normalmente os aumentos da função pública, para quem, como é sabido, o estado decretou este ano 2,9% de aumento.
Se Faria de Oliveira está "preocupado" com a crise, porque não abdica de todas as mordomias que recebe naquele banco? Porque não abdica dos cartões de crédito especiais, das viaturas topo de gama, e da panóplia de subsídios e prémios que por tudo e por nada que ali recebe?
Gente como esta faz-me estranhar também o facto de se estar a desenhar na mente dos nossos empresários uma luminosa estratégia: reduzir os salários dos seus trabalhadores e isto também nas empresas que continuam a gerar lucros! Esta medida está normalmente acompanhada de uma ameaça, a da redução dos postos de trabalho, porque a todo o custo pretendem manter os mesmos lucros.
A redução ou degradação dos salários destroem a economia, destroem a capacidade de consumo. Com isso destroem o mercado interno e apenas contribuem para que os trabalhadores deixem de poder honrar os seus compromissos.
São mentalidades como esta que geraram esta crise! Não foram os trabalhadores que a geraram!