O "papelaço" de Chora
Porque o tema me interessava, assisti ontem ao "Prós e Contras" que se propunha debater o "trabalho em tempo de crise". No fim do tempo que durou o programa o que retive foi a cena lamentável protagonizada por António Chora, o presidente da Comissão de Trabalhadores da Auto-Europa. Não esteve com meias medidas e acusou os sindicatos e confederações patronais de retrógrados, isto é, neste rectângulo luso só ele! O único iluminado! Curiosamente Chora é membro de um sindicato, mas que raio, que faz ele então numa organização retrógrada?
Bem esteve Carvalho da Silva quando, recusou, com bofetada de luva branca, levar o debate por aí, o que provocou o esgar amarelo de António Chora.
Este tipo de debates é como chover no molhado. As nossas associações patronais interiorizaram uma só coisa: a redução dos salários e o aumento dos horários de trabalho. Nem tão pouco valeu a intervenção do representante da Organização Internacional do Trabalho, OIT, que tem representação paritária de governos dos 182 estados-membros da ONU e de organizações de empregadores e de trabalhadores, afirmar que na última conferência anual, realizada neste mês de Junho, se concluiu precisamente que não é pela via de redução dos salários e do aumento da carga horária que serão encontradas soluções para o emprego.
Temos à frente das organizações patronais alguns dirigentes de ideias fixas. Durante anos bateram na tecla da rigidez laboral, agora aproveitando a crise, colocam-na de lado e carregam noutra, a das remunerações salariais. Chegam até a querer-nos convencer que a culpa da crise foram os salários dos trabalhadores. Nem sequer coram de vergonha se alguém aponta as altas remunerações e bónus de gestores ou a administração ruinosa do sistema financeiro.
Enquanto a maioria dos governos dos países desenvolvidos implementa linhas de acção para promover a recuperação económica e do emprego, ou seja, medidas de estímulo da procura, através de incentivos fiscais e baixas taxas de juro e medidas dirigidas ao sector financeiro, para atingir o equilíbrio e restabelecer o fluxo de crédito, os nossos empresários apostam na redução dos salários e António Chora no insulto aos sindicatos, é obra!
